terça-feira, setembro 29, 2009

No more tiers

tem dias que o amor está de OLHEIRAS
tem dias que o amor tira zero na PROVA
porque amor não é bala de HORTELÃ
é de gengibre e fogo de RABO
amor que não arde não tem graça, mas que arda mais nas minhas fuças que nas partes ENFLAMADAS
ai amor que me enche toda de amor e assim toda enlameada eu posso ser AMADA
amor não é bala de HORTELÃ
é bala de FOGO
METEORO EM CHAMAS

(Agradecimento às minhas amigas Letícia e Guiga que me inspiraram este poema)

sexta-feira, setembro 04, 2009


Fragmentos de meu diário escrito entre maio e agosto de 1982!

“Passamos em uma loja de sapatos, e nossa mãe olhou para nós e disse para meu irmão:
__Não faça bagunça Roberto, e você Rosely hítem”. (20/05)

“(...) a professora deu uma matéria nova, a matéria até que é fácil” (20/05)

“Bem... são 8 e 10 e ainda não fiz a tarefa da lição de ca, posso te guardar agora? Está muito frio e não posso sair lá fora para te dizer como está a lua, posso agora te guardar? Obrigada, uma linda noite para você e tenha sonhos que chegou noite e você dormiu” (20/05)

“Hoje, amado diário, tive prova de português e não sei se fui muito bem, no gênero do substantivo só coloque epiceno e comum de dois. Esqueci totalmente do sobrecomum, por isso não poderei tirar AE” (21/05). Observação: AE = avanço excelente, correspondendo às notas 9 e 10.

“Já li muitos livros sobre ela, e de muitos outros personagens” (22/05). Observação: referia-me à ‘Alice no país das maravilhas’. Quando criança, freqüentava a biblioteca do bairro. No início, tirava 7 livros por semana, mas reclamava à bibliotecária que era pouco. Ao constatar que eu realmente sabia responder sobre todas as estórias que ela perguntava, passou a me emprestar 10 livros por semana. Eu me sentia muito especial por quebrar as regras.

“Oi, diário, como vai? Hoje assisti o holiday on ice, foi um festival em tanto! Foi uma maravilha! Gostaria que você estivesse lá, foi mesmo lindo! No almoço almoçamos comida italiana, uma gostosura! Hoje me diverti à bessa! Soltamos bombinhas e fogos! Que maravilha! Hoje parece que entrei no país da alegria! Pois até esqueci que a vida existia minha prima e minha tia chegaram, preciso atende-lás, porque minha prima adora olhar o que ganhei, se tem uma novidade, etc. Adora papel de carta e figurinha ‘Bem me quer’. Tchau diário, até amanhã” (23/05). Observação: minha professora leu este dia de meu diário para toda a sala escutar. Lembro-me muito bem disso: quando ela começou a ler, todos os meus amigos ficaram olhando para mim, sorrindo, surpreendidos a cada informação. A professora elogiou as minhas palavras e eu morri de vergonha! Mas gostei muito. Foi um dia em que fui o destaque da aula. Todas as crianças queriam falar comigo e me perguntaram mais sobre o Holiday on ice, um espetáculo de patinação no gelo que ocorria no parque do Ibirapuera.

“Oi, como vai? Agora vou contar o que fiz de hoje:
Levantei-me muito animada hoje, pôs ontem foi um sucesso! Só que hoje é hoje. Tomei o café e comi pão puro, mas o que estava gostoso mesmo é o pão.
Meu pai usa palmilhas nos sapatos. No almoço comi arroz com comida tineleza e molho de frango” (24/05). Observação: não me perguntei o que é comida tineleza que não sei! (risos)

“Estou fazendo a tarefa, e não posso ser pertubada, mas, meu irmão está querendo quebrar nozes, estou avisando para ele ir embora e ele não quer. Minha mãe está no telefone e vou avisá-la quando sair de lá” (26/05)

“Brincamos de duas brincadeiras: Queimada e outra brincadeira que não conheço o nome. Aqui tem um aquecedor para fazer um ar gostoso e quente” (26/05)

“Não fui na aula, e nem fiquei em casa. Ontem minha avó não estava passando bem, então minha mãe a levou para a médica.
Hoje minha mãe saiu e tive que ir junto (pois ela nunca me deixa sozinha e não deixa eu sair sozinha, nem com pessoas estranhas).
Quando chegamos em casa, já eram 1 e meia e tive que ficar em casa. Meu irmão (que também tinha ficado em casa) me chamou:
__ Rosely! Vem cá! Estou vendo um bem-te-vi!
Fui correndo e, quando cheguei ele estava gritando: Bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi!...
Era lindo, mas depois de ter dado aqueles berros, voou para bem longe” (27/05)
Observação: lembro-me muito de como ficava chateada de não ter autonomia se queria ficar em casa ou sair. Eu ficava sabendo que ia sair em cima da hora (lógico, por que minha mãe me avisaria com antecedência? – risos) e isso me deixava irritada e triste. Em outras passagens de meu diário, reclamo que eu nunca podia ficar sozinha em casa.

“Hoje foi o aniversário de minha professora.
Não tivemos aula, e sim festa. Todos escreveram na losa: Feliz aniversário professora! Viva a professora Olga!...
Levaram discos, com músicas que a professora gostava. Teve um baile, cada menino com uma menina: o Paulo Rogério com a Úrsula, o Rafael com a Maridene,...
Eu dancei com o Eduardo. Só que muita gente acha que dançar é igual a namorar. Não é nada disso, pois namorar é igual a amar, gostar, etc para poder casar” (28/05)

“Meu irmão tem 5 anos, e eu 10. Ele está no pré e eu no 4º ano. Mas não é por isso que está quase do meu tamanho, daqui a pouco ele me passa.
Ele sempre fala:
__Daqui a pouco sou o primojemito!
Eu explico para ele:
__Roberto, você pode estar cataravô e mesmo assim será caçula” (28/05). Observação: eu me lembro que meu irmão ficava muito incomodado de ser chamado de caçula. Eu estava sempre tentando explicar para ele o que caçula significava, mas talvez não conseguisse ser clara na mensagem (risos). Eu era muito pequena mesmo, a menor da classe.

“Li o livro que peguei na classe. Tive sorte, além de ser pequeno (de poucas folhas) é um livro muito bom, ensina bastante coisas, explica muitas palavras e o nome do livro é ‘A porta da aventura’” (29/05)

“Minha mãe fala que eu tenho que cuidar de mim mesma, não perguntar o que ela estava falando no telefone, na rua, na escola, etc” (30/05)

“Ela vive falando que sou a responsável de minhas coisas. Não sei o que é responsável, por isso tenho que recortar e colar no vocabulário.
No recreio foi uma confusão, a nossa fila misturou com a do 1º ano.
A professora mandou um aviso que dizia assim: ‘Mandem olhar a cabeça porque já está tendo piolho de novo”.
Minha mãe já olhou a minha cabeça, e eu não tenho” (31/05)

“Hoje tive ponto negativo, por causa que não trouxe o livro. Aquele da ‘porta da aventura’, lembra-se?
Também não levei a ficha de leitura, a qual devia ser feita” (01/06)

“Mas a professora não deu só porque não formamos fila. Hoje também ia ter redação, e a tia não deu não sei porque.
No recreio lanchei sozinha. Só que fiquei imaginando, fazendo poesias líricas. Só que agora não lembro nenhuma” (03/06)

“Bem... De manhã tive uma surpresa: ganhei uma chinela nova. Minha mãe está fazendo uma legislação sobre nossa casa, anda com muita briga entre nós dois (Eu e meu irmão).
Quando fui para a aula, cortei o dedo e saiu pouquíssimo sangue. Pois não foi nada, não doeu e não chorei” (04/06)

“Minha mãe está reclamando que comemos todos os ‘Chambinhos’ que ela comprou!” (04/06)

“No ano passado, (depois da operação) tirei AS- em ciências e AI em Estudos Sociais. Ainda bem que era prova ‘semanal’. E semanal quer dizer da semana!” (05/06). Observação: quando tinha nove anos de idade, fui submetida a uma cirurgia de rim. Passei muito tempo longe da escola por causa de exames e pós-cirurgia. Quando voltei, fiquei com medo de repetir de ano, pois tinha perdido muitas aulas. Mas minha mãe estudou comigo e consegui recuperar. AS era “avanço suficiente” e AI “avanço insuficiente”.

“No almoço outra vez comi comida tinoleza com um pato frito” (06/06). Observação: de novo, não me perguntem o que é tinoleza que ainda não descobri!

“Minha mãe é uma pessoa delicada, analisa tudo, se faz ou não faz, sabe consolar, etc.
No ano passado, minha tia Nunciata, estava num hospital em Piraçununga, minha mãe trouxe ela para São Paulo, colocou no melhor hospital, ela que pagou, avisou ao Léu, meu tio médico, ele deu muitos médicos para salvá-la, ela avisou que ia ser operada e colocar uma sonda no nariz.
Mas, mesmo assim ela morreu” (06/06).

“Depois foi pro céu a tia Erta, que foi em abril. Coitada! Essa já foi sem enchergar” (06/06).