terça-feira, novembro 28, 2006

Ainda que eu falasse a língua dos anjos

Marguerite Duras publicou o livro O Amante em 1984. Dizem as más línguas que este texto é auto-biográfico. Isso porque a personagem vive um tempo o mesmo de sua infância, no mesmo lugar onde a autora nasceu e cresceu: Indochina. Envolvida em um escandaloso romance, a personagem mistura os focos narrativos, eu e ela tratam da mesma garota, eu em cenas mais cotidianas e descritivas, ela em ambientes emocionais (muitas vezes sexuais).
Assim começa a estória:

"Um dia, eu já tinha uma certa idade, no hall de um prédio público, um homem veio até mim. Ele se apresentou e me disse: 'Eu a conheço desde sempre. Todo mundo diz que a senhora era bonita quando jovem. Eu vim lhe dizer que, para mim, a senhora é mais bonita agora do que quando era jovem. Gosto menos de seu rosto de moça do que o de agora, devastado'."

http://www.ambafrance.org.br/abr/label/label24/letras/duras.html

domingo, novembro 26, 2006

Água para beber

Este Livro
.
Meu filho.
Não é automatismo. Juro.
É jazz do coração. É prosa que dá prêmio.
Um tea for two total, tilintar de verdade que você seduz,
charmeur volante, pela pista, a toda.
Enfie a carapuça. E cante.
Puro açúcar branco e blue.
.
Ana Cristina César
.
.
Tenho adquirido o hábito de tomar chás.
Café também, que não gostava tanto de café.
Mas depois que descobri o café curto, vi que o que gosto mesmo é de café bem forte.
E sabe de uma coisa? Minha compulsão por chocolates diminuiu muito. Eu acho ótimo, e isto não pode ser coincidência. Porque antes, eu tinha vontade de comer chocolate todos os dias.
Mas agora café me basta.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Andar com a fé eu vou, que a fé não costuma faiá

Pessoal, esta palestra, pela sinopse, parece ser bem interessante.
Se alguém tiver mais informações a respeito, pode mandar.
Eu vi alguns cartuns do palestrante e gostei muito.

no site tem outras atividades também: http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao/consciencia_negra.htm

dia 24 Palestra Traços de liberdadecom: Maurício Pestana (cartunista) Como o personagem negro é focalizado na literatura e nos meios de comunicação, nas diversas mídias, principalmente no cartum e nos quadrinhos. Sexta, às 19h30 - Gibiteca Henfil

segunda-feira, novembro 20, 2006

Preta, preta, pretinha

"Dia 20 de novembro é o dia Nacional da Consciência Negra. A data marca o assassinato de Zumbi, em 1695, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares.
O reconhecimento dessa data para lembrar a contribuição negra à história brasileira, e as mazelas da escravidão e do racismo, reveste-se de muitos significados.
Primeiro, é uma referência a um líder negro, lembrando que a história oficial pouco reconhece heróis populares, muito menos da raça negra. A data substitui pouco a pouco o 13 de maio, uma data da história oficial, na qual se comemora uma liberdade por decreto. ¬Liberdade que trocou a senzala e o pelourinho pelo racismo velado e pela discriminação sistematicamente arquitetada.
Símbolos da cultura negra continuam sendo desarticulados e transformados em signos folclóricos de brasilidade. Até uma apetitosa iguaria, o acarajé, tem sido identificado pela intolerância como símbolo do demônio. Mal sabem eles que o acarajé será registrado pelo IPHAN como patrimônio imaterial da cultura brasileira".
http://www.sesctv.org.br/editorial.cfm

Hoje, em São Paulo, é feriado.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

Muito feliz esta iniciativa. Tem um monte de feriado no ano que passa e a gente não sabe nem o que é, só pensa alegremente no dia de folga, ou no passeio, ou na praia, enfim, o dia comemorativo acontece e não há nenhuma repercussão nas pessoas.

Porém, este dia da consciência negra me parece diferente, porque ouvi muita gente comentando, até com muitas dúvidas, sobre este dia e sobre a importância ou não deste feriado. Eu acho ótimo que se motive um monte de eventos para personagens, personalidades, estórias, expressões diversas e negras.
Afinal, embora a mídia seja composta de atores e apresentadores e etc todos brancos (ah, sim, agora tem meia dúzia de negros na novela), na realidade o Brasil é negro. Nós, brasileiros todos, precisamos redescobrir as nossas culturas, porque sempre fomos enganados por uma ideologia branca. Precisamos descobrir o que há de África em todos nós. Não somos apenas os imigrantes europeus. Não somos apenas os portugueses.
Somos o que veio de todos os lados do mundo.

Mas desconhecemos África.

África no máximo é uma visão de safári no meio da selva. São algumas tribos selvagens. São algumas religiões estranhas, objetos místicos.
A estória da África muitas vezes se resume inescrupulosamente um século de escravidão, onde os negros sofreram um pouco. Foram dominados sem resistência, embarcados nos navios negreiros. Como se não passassem de uns coitados.
Temos a impressão de que o mundo pode ensinar a África, mas que a África não tem nada a nos ensinar. Como se África fosse um país desamparado economica, financeira, cultural e intelectualmente.
Como se África não tivesse ensinado NADA para o Brasil.
Como se a civilização tivesse transformado os negros que chegaram aqui, e não o CONTRÁRIO.

Mas a verdade não se transforma pelas palavras. A verdade só se transforma na cabeça das pessoas. Não se transforma na realidade. E a realidade é que o Brasil é o que é hoje porque também é fruto de ÁFRICA.
SOMOS FILHOS DE ÁFRICA TAMBÉM.

Também temos que chamá-la de MÃE, e agradecer tudo o que ela nos deu.
Nossa vida, nossa comida, nossa música, nossa dança, nossa ancestralidade.

Que povos viviam em África? Que reinos? Que tecnologias existiam? Que culturas, que princípios, que compêndio intelectual adormeceu com os mais velhos, que contavam estórias e que se calaram?
Qual a geografia dos seus países, quais seus climas variados, quais são suas etnias, quais as riquezas materiais e imateriais?

Segue poema Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!, de António Jacinto, poeta angolano. Retirado do livro: Sobreviver em Tarrafal de Santiago.

Um retângulo oco na parede caiada Mãe
Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze retângulos de vidro Mãe
As barras e os varões nos vidros
projetam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe
Lá fora é noite Mãe
O Campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
o mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe
A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe
Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
e como se vê, Mãe
Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!
Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe
Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe
Ah! Se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Mais alguns poemas deste autor:
http://betogomes.sites.uol.com.br/AntonioJacinto.htm

quinta-feira, novembro 16, 2006

Escute esta canção, ou qualquer bobagem

Às vezes um pouco de bobagem para a gente distrair de tanta coisa que tem para fazer.

Coisas que todo mundo (aduto) deveria fazer pelo menos uma vez na vida:

Pular de pára-quedas
Brincar em um parque de diversões que nem criança
Discursar para um público de mil pessoas ou mais
Andar de navio
Viajar de avião
Andar de trem
Ver o mar
Ver o nascer do sol, ver o pôr-do-sol
Cruzar o oceano
Aprender ao menos uma língua estrangeira
Visitar o rio Amazonas
Ir em uma festa de milionários
Ir em uma festa em uma comunidade muito pobre
Conhecer
Ter um amigo muito mais jovem e um amigo muito mais velho, sem sentir as diferenças
Tocar um instrumento musical
Escrever um livro
Plantar uma árvore
Ter um animal de estimação
Espiar em um telescópio bem potente, para ver as estrelas e o universo
Mergulhar
Fazer uma viagem longa de carro
Perder-se numa banheira de espuma
Passar um dia no spa
Estudar a fundo um tema de interesse
Fazer terapia
Mudar radicalmente o visual
Repensar a maneira de viver
Ter um filho (ou adotar)
Ter um mestre
Ser um mestre
Saber uma tarefa artesanal ou manual
Tirar fotos e ser fotografado
Ir ao teatro, ao cinema, a espetáculos artísticos
Pegar um autógrafo
Dar um autógrafo
Ter um hobby

Não falei que eu estava a fim de escrever BOBAGENS para distrair a cabeça????
Então, último item da lista: escrever bobagens no blog para distrair.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Menino do rio

"Quem é este cara?"
Eu e o Márcio olhamos para aquele miúdo de bermuda folgada. Tinha acabado de nos pedir um trocado. Então expliquei que era o Padre Anchieta, um poeta que tinha vindo para o Brasil há muitos e muitos anos, um espécie de padre que escrevia poemas na areia da praia. Ficamos um pouco ainda na frente da estátua.
"E as nuvens, do que será que são feitas?" - continuou o menino, verificando que podíamos ter respostas a suas dúvidas.
"São vapores que subiram até o céu. Sabe quando você ferve água, não sai uma fumacinha? É a água que se transformou. O sol esquenta as águas que estão por aí, inclusive do mar. Todos os vapores sobem e se encontram lá em cima. Formam as nuvens. Uma hora as nuvens ficam bem pesadas e começam a baixar. Uma hora, elas esfriam um pouco e se transformam em água líquida de novo. Por isso, chove."
O menino nos olhava com aquele olhar de quem quer aprender cada vez mais. Não sabia quase nada do funcionamento do mundo.
Tããããão lindinho!
Isso já faz tempo. Lembrei-me disso porque hoje estávamos na rua, o Márcio tirou uma folha da árvore. Um menino estava guardando o carro. Veio correndo atrás da gente:
"Tio? Tio? Por que o senhor pegou a folha da árvore?"
O Márcio explicou que era para ver como eram os nervinhos da folha e fazer igual no quadro.
"Ah... para pintar, né..."

terça-feira, novembro 14, 2006

Acredite se quiser...


...hoje faleceu o Jack Palance.
Eu gostava tanto do programa dele...
Podiam reprisar...

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u65970.shtml

o Haiti é aqui, o Haiti não é aqui


Não sei vocês, mas eu acho que o Sebastião Salgado faz muito juz à sua fama!
Adoro suas fotos! A gente pode ficar analisando cada imagem, verificando muitos detalhes, retirando uma porção de mensagens, conhecendo partes do mundo que a gente nem imagina que possa existir (às vezes muito mais próximo da gente do que possamos imaginar...).
Ele por vezes retrata um mundo que parece tão distante de nós, tão improvável de ser verdade, que desafia a nossa razão e a nossa dimensão do que é a vida.
Mais do que o exótico, Salgado retrata pessoas reais, que passam por situações reais, por mais inóspitas que possam ser. E que ocorrem no tempo atual, não no tempo de Cristo ou na Idade Média, como pode causar impressão.

segunda-feira, novembro 13, 2006

E sempre faz o que bem quer


"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem." Lya Luft

http://www.releituras.com/lyaluft_bio.asp

sexta-feira, novembro 10, 2006

Mais vale ser alegre que ser triste

Este blog anda muito pessoal ultimamente.
Acho que é porque não tenho tido muito tempo para escrever, e quando páro, acabo seguindo o caminho mais fácil: o de falar coisas que estão mais à margem da minha cabeça, mais à superfície.
E pensar sobre o mundo cansa um pouco também.
Principalmente porque gosto muito de pensar no que nos incomoda no mundo, não é à toa que estudo a violência no meu mestrado.

Por isso hoje vou fazer uma forcinha e escrever sobre algo muito positivo.
Vou pensar um pouco hoje sobre a vida alternativa.
Que, aliás, nem deveria se chamar alternativa, deveria se chamar a mais óbvia.
Porque se ser alternativo significa ser um pouco mais saudável, isso quer dizer que o mais comum é ser assim mais adoecido.
Tá vendo? De novo essa questão do mundo podre invadindo o meu blog.
Não tem gente que torce o nariz para a vida alternativa?? Isso porque está todo mundo muito acostumado a ser doente, a comer coisas que não prestam, a não se importar nem um pouco com o corpo ou com a mente ou o que o mundo nos faz.
Muita gente torce o nariz para a vida alternativa porque se acostumou a uma vida ruim.
Pois bem, tenho orgulho de pensar e ser um pouco alternativa da vida comum.
Ser alternativo é pensar que estar preguiçoso durante um dia está relacionado a algum fenômeno integrado do seu estado interior com algum fator externo.
Pode estar relacionado com o que dizem as estrelas, pode estar relacionado com o movimento do universo.
Porque não estamos desconectados de um movimento maior que nos envolve.
Acho que às vezes, porque somos racionais, pensamos que podemos ter controle de tudo sozinhos, e que ditaremos o nosso estado de pensar e de ser e de agir como bem nos apeteça.
Mas não é assim, não.
O corpo respira quer a gente pense nisso ou não.
Nem sabemos se o corpo entrou em contato com alguma bactéria e está se defendendo, está se mobilizando para se manter saudável.
Não sabemos se algo que comemos ou que bebemos ou que cheiramos nos causou algum conforto ou desconforto orgânico.
Por mais que pensemos que temos controle de tudo, na verdade nem as nossas vontades celulares a gente sequer conhece.
Nosso próprio corpo, portanto, está fora de nosso controle.
Muito do que acreditamos não passa de ilusão.
E muito do que sentimos, não passa de vício.
Por exemplo: pode-se ter o vício de ser infeliz.
Pode-se ter o vício de ficar zangado.
Pode-se ter o vício de comer chocolate.
Porque o corpo se acostuma a produzir determinadas substâncias e acaba aprendendo a conviver com elas. Acaba precisando delas.
Vida alternativa muitas vezes é relacionada, e indevidamente eu diria, a um estado de relaxamento total, mas nem tudo que precisamos fazer é fácil, ou adquirimos na simplicidade de uma meditação.
Às vezes, é preciso muita CORAGEM e FORÇA para enfrentarmos o nosso organismo e a nossa mente e tomar atitudes para nosso próprio bem.
Podemos rejeitar arduamente a disposição para mudanças, para atitudes.
A culpa por vezes nos "protege" de enfrentarmos os nossos fantasmas.
Porque é mais fácil ser um infeliz consolado do que um ser de falhas e talentos que bota a cara para bater.
Mas o bom é que quando a gente supera uma primeira fase de mudança, o resto fica bem mais fácil.
Parece difícil parar de tomar refrigerante, por exemplo, se tomamos todos os dias. Mas não adianta só estabelecer a privação: é preciso descobrir os prazeres dos sucos, das águas (há diferentes águas com diferentes gostos), os prazeres das bebidas aquecidas. O doce, o amargo, o azedo, o salgado. Se a gente só decidir parar de tomar refrigerante sem se dispor a encontrar alternativas no mundo, parece que não estabelecemos nada além de um castigo. E não é esta a proposta de seguir uma vida mais saudável... a idéia é a de assumir mais prazeres e não o contrário!
Por que ser mais feliz é alternativo?? Então o comum é ser mais triste? ou no mínimo inconsciente do que faz mal.
É, ser alternativo dá trabalho, porque a gente se informa mais sobre o que come, como se vive, como se age. E tem que enfrentar os fantasmas. E tem que ser melhor com o meio ambiente e com o mundo, porque só as pessoas mesmo que podem modificá-lo. Ou seja, a gente...
Boa sorte a todo mundo!!!!
Um beijo alternativo...

sábado, novembro 04, 2006

Lá vem o pato

Como é bom se lembrar dos livros que a gente leu na infância!!!

O burrinho alpinista certamente foi um dos mais importantes! É a história de um burrinho que contraria a expectativa de sua vida, a de ser um burrinho pacato, e escala uma montanha para ver o que há do outro lado...

Monteiro Lobato e suas mil e uma aventuras! Como era gostoso de ler as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo!

A fada que tinha idéias - puxa, que livrinho genial... conta a história de uma fadinha aprendiz que resolve seguir as próprias idéias ao invés de ater-se às lições de seus professores. Lógico que ela acaba se envolvendo em muitas confusões!

O menino maluquinho, ah, como eu gostava! Eu aproveitava os riscados do livro e pintava os personagens. Duplo divertimento! Eu ficava planejando me divertir tanto quanto o menino maluquinho, para quando crescesse pudesse ser uma adulta feliz (ainda não adultei de tudo, mas parece que deu certo!).

Quando eu era criança, ia na biblioteca duas vezes por semana, porque só se podia pegar sete livros de cada vez. Quando eu devolvia os livros, ficava comentando sobre eles com a bibliotecária. Então ela me abriu uma excessão e eu levava dez livros por vez. Foi quando descobri as revistinhas Salaminho e Mortadela, eram muito engraçadas!

E então passei para a série vagalume, li o Meu pé de laranja lima (como todo mundo da época), descobri Carlos Drummond de Andrade aos onze anos... puxa, tive muita sorte. Li alguns clássicos no ginásio, Alexandre Dumas (pai), Dom Quixote...
Tinha um livro psicodélico Manu, a menina que sabia ouvir, com vários episódios surreais.

Bom... não posso me queixar. Fui uma criança que pedia livros de presente.

Engraçado que, sem saber que eu estava falando sobre este assunto, o Márcio fez uma panela de mingau. Ele me ofereceu e perguntou: "Está cuidando da criancinha Rosely?"
Baita coincidência.

quinta-feira, novembro 02, 2006

E as fumaças não contam histórias

Não fumo.
Já fumei alguns cigarros.
Faz tempo... nem me lembro quando foi a última vez que coloquei um cigarro na boca.
O estranho é que a vontade de fumar nunca me abandonou.
Diminui um tempo, desaparece, até esqueço.
E tem uns tempos que esta vontade volta... vontade de pegar um cigarro, fumar, sentir o cigarro nas mãos, ver a fumaça saindo da ponta.
Assoprar a fumaça, senti-la dentro do corpo.
Quando se inspira a fumaça de um cigarro, inspira-se forte. Como se levasse um sustinho.
Também assopra-se forte a fumaça.
Segurar o cigarro com a boca.
Pequenos e insignificantes gestos, por que esta vontade que dá?
Cabelos que ficam cheirando depois, isso não presta.
Dentes que se mancham.
E eu tenho bronquite, não deveria nem pensar em cigarro, que já faz mal.
Não dá para explicar.
Quando eu era criança, sonhava que estava fumando. Aliás, às vezes ainda tenho este sonho: que estou fumando.
Não sei explicar. Só sei que passo vontade.
E vou continuar passando se a vontade insistir.
Às vezes, penso: só unzinho não vai fazer nada...
Mas unzinho se transforma em vinte rapidinho.
Ai, ai... pra que esta vontade, hein?
Acendo um insenso para disfarçar.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Você é um rei / E eu, um barão / Eternamente vermelho / Totalmente doidão

Frantz Fanon publicou, em 1961, o livro Os condenados da terra. Trata-se de um apanhado de suas experiências como psiquiatra e como militante pela libertação de Argélia, ainda colônia da França. Neste e em outros livros seus, defende idéias de revolução para a descolonização de África. Para ele, os europeus estabeleceram uma superioridade racial para legitimar exploração de negros e árabes, fenômeno imposto por violência e que só seria banido por violência.
Fanon morreu no mesmo ano por leucemia, não tendo oportunidade de ver seu país livre, o que só aconteceria em 1964.
Só de curiosidade, os países colonizados por Portugal só tiveram proclamadas independências em 1975.

"O colonizado está sempre atento porque, decifrando com dificuldades os múltiplos signos do mundo colonial, jamais sabe se passou ou não do limite. Diante do mundo arranjado pelo colonialista, o colonizado não é uma culpabilidade assumida, é, antes, uma espécie de maldição, de espada de Dâmocles. Ora, no mais fundo recesso de seu ser, o colonizado não reconhece nenhuma jurisdição. Está dominado, mas não domesticado. Está inferiozado, mas não convencido de sua inferioridade. Espera pacientemente que o colono relaxe a vigilância para lhe saltar em cima. Em seus músculos, o colonizado está sempre à espera. Não se pode dizer que esteja inquieto, que esteja aterrorizado. Na realidade está sempre pronto a abandonar seu papel de caça para se tornar o de caçador". (p. 39/40)




"Na pintura de Richard Westall, A Espada de Dâmocles, (1812) os belos rapazes da anedota de Cícero foram transformados em virgens para gosto do patrono neoclássico Thomas Hope."


"Dâmocles é uma figura participante de uma anedota moral que foi uma adição tardia para a cultura grega clássica.
A personagem pertence mais propriamente a um
mito que à mitologia grega. A anedota aparentemente figurou na história perdida da Sicília por Timaeus de Tauromenium (c. 356 - 260 a.C.). Cícero pode tê-la lido no Diodorus Siculus. Ele fez o uso dela em suas Tusculan Disputations V.61 - 62.
Dâmocles, ao que parece, era um cortesão bastante bajulador na corte de Dionísio I de Siracusa - um tirano do século 4 A.C em
Siracusa, Sicília. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte. À noite, um banquete foi realizado, onde Dâmocles adorou ser servido como um rei. Somente ao fim da refeição olhou para cima e percebeu uma espada afiada suspensa por um único fio de rabo de cavalo, suspensa diretamente sobre sua cabeça. Imediatamente perdeu o interesse pela excelente comida e pelos belos rapazes e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado.
A espada de Dâmocles é uma alusão freqüentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente.
Entalhes em madeira da espada de Dâmocles aparecem como símbolo em manuais europeus dos séculos XVI e XVII."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dâmocles