terça-feira, fevereiro 27, 2007

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Strange fruit


Southern trees bearin' strange fruit,

Blood on the leaves and blood at the root,

Black bodies swinging in the southern breeze,

Strange fruit hanging from the poplar trees.


Pastoral scene of the gallant south,

The bulging eyes and the twisted mouth,

Scent of magnolias, sweet and fresh,

Then the sudden smell of burning flesh.


terça-feira, fevereiro 20, 2007

Comemoro na cidade

Hoje é aniversário da Érica.
Uma mulher muito doce com sorriso de menina.
Uns olhos sorridentes que sorriem tudo o que a sua alma sorri.
Estou aprendendo muitas coisas com esta minha amiga. A gente aprende a brincar, que nem criança. Isso porque todas a vezes que nos falamos, acabamos sorrindo mesmo, de verdade.
Ela já ouviu as minhas lágrimas, apesar de estar bem longe. E eu vi seu rosto criança, com caracóis loiros e tudo.
Dá um alívio quando a gente encontra alguém assim como ela no mundo. Dá essa boa sensação de não solidão. De saber que alguém compartilha com a gente das dúvidas do viver e do saber.

Feliz Aniversário, ÉrIcA.
E continue ericando por aí que faz bem à saúde.
http://kianda.blogspot.com/

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Nunca perde essa mania

Alguns pensamentos que eu tive outro dia e que vou agora compartilhar despretensiosamente com vocês.


Reparem nesta pintura ao lado: chama-se "O filho do carteiro".


É um quadro de Van Gogh.


Ontem eu o vi pessoalmente no Masp, e o que me chamou a atenção na hora foi o boné (pelo formato) e a roupa do menino (por ser azul), porque me deu a impressão de se tratar de um uniforme de carteiro.


Ao procurar na internet outro quadro de Van Gogh, "O carteiro Roulin", percebi que realmente há semelhanças nas vestimentas.


Só que nem a roupa nem o boné são de adultos, o que indicaria que o menino estaria brincando com o uniforme do pai. Não: ele está, na verdade, vestindo a profissão da família.


Ou seja, apreendi a seguinte mensagem: que esta criança, por ser criada por uma família humilde, não terá muitas chances de seguir uma carreira diferente, um destino diferente. Por uma impossibilidade social.


E mais: observem o seguinte trecho:



Sempre que possível, van Gogh convencia o povo de Arles a posar para ele, registrando assim para a posteridade os médicos e comerciantes que faziam parte de sua vida. O carteiro Joseph Roulin era um homem simples que nunca tinha visto um pintor antes, e que parece sempre um tanto tímido e constrangido em vários retratos seus feitos por van Gogh. Em uma carta a um amigo, van Gogh descreveu Roulin como "um tipo socrático, não menos socrático por ser um pouco alcoólatra e ter, consequentemente, um rosto muito afogueado. Sua esposa tinha acabado de dar à luz e o bom homem resplandecia de satisfação. Ele é um velho republicano terrível, como Père Tanguy. Ficou tão enrijecido ao posar que pintei-o duas vezes, a segunda em uma única sessão."


http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/artes/vangogh/Van_roulin.htm



Se o carteiro tem o rosto afoguetado pelo alcoolismo, é interessante notar que o rosto do menino também o é.
Outra premonição?
Reparem também nas mãos tensas, deformadas, próprias de homens trabalhadores. Para mim, dão até a sensação de sofrimento. O que se pode confirmar pelo olhar carregado de ambos.
Mas há diferenças muito nítidas entre o homem e o menino: a postura.
Se o homem está endurecido, o menino está bem à vontade.
Não endureceu ainda.
Está em uma tela quente, ao contrário da tela fria do homem.
Não houve ainda a desilusão. Não houve ainda a compreensão do mundo e de suas imposições. O confronto entre os desejos, as esperanças, e as perdas, os sonhos desmoronados.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Alguns a desejar seus beijos de deusa


Outro dia, vendo o noticiário sobre a cratera de São Paulo (http://busca.folha.uol.com.br/search?site=online&q=cratera), vi que muitas casas próximas à linha 4, a que faz parte da que desabou, estão cheias de rachaduras, portas que não abrem ou não fecham, entre outros problemas.

Ninguém é ingênuo de acreditar que a cratera caiu por fatalidade. Caiu porque o método utilizado era inseguro para o terreno. Há chances de desmoronamentos se usando desta técnica. Deve ser a mais barata, lógico, apesar de todo mundo saber que as obras públicas também são superfaturadas. E existem muitas outras que seriam mais apropriadas.

Mas o mais absurdo foi quando um dos moradores deu o seguinte testemunho:

"Já procuramos o metrô e manifestamos nossa insatisfação sobre os problemas que temos enfrentado. O engenheiro nos disse que este é o preço do progresso".

Olha, não tem nada que me deixe mais "P" da vida do que este discurso de safado.

Preço do progresso é o que se deve investir para trazer benefícios para as pessoas. Prejudicar as pessoas ou o meio ambiente não é progresso nem aqui nem na lua. Já temos tecnologia suficiente para calcularmos menos danos, para amparar os envolvidos. Sair fazendo de qualquer jeito sem dar satisfação para ninguém não é progresso coisa nenhuma. É insensibilidade, no mínimo, se não crime.


quarta-feira, fevereiro 07, 2007

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Segue o seco sem sacar que o caminho é seco

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.
Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.
Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.
Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.
Também a noite é escura.
(Sagrada esperança)

Poema de Agostinho Neto, poeta angolano. Foi o primeiro presidente da República de Angola, em 1975. Nasceu em Catete, Angola, em 1922, faleceu em 1979.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Lava roupa todo dia

Estava eu sentada no meu computador, escrevendo, veio o cachorrão e se deitou aos meus pés, encostado em minhas pernas.

Já notei que algo estava de errado, porque quando o cachorrão se vê em alguma enrascada, ou está doentinho, ou qualquer coisa assim, ele vem se encostar em mim.


__ Que foi, cachorrão??


Ele, ofegante (outro sinal de que algo não estava bem), me olhou com as orelhas abaixadas.


De repente eu comecei a sentir aquele cheirinho desagradável. Xi, cachorrão, o que aconteceu?


Então fomos ao quintal, e ele ficou andando em círculos, com a cabeça baixa.


__ Ah... não é nada, cachorrão.


Olhei para baixo do rabinho e lá estava alguma coisa que deveria ter caído, mas ficou pendurada.


__ Vamos lá na frente, cachorrão! Aí você faz força de novo que dá certo. É só fazer força, cachorrão!


E ele, entendendo tudo de maneira abnegada, foi até o jardim, encurvou-se como se faz o cachorro, ficou fazendo força. E eu lá do lado:


__ Isso, cachorrão! Vai dar certo.


E num instantinho, o cachorrão se viu livre da agonia.


__ Está vendo, cachorrão? Não era nada.


Ele me olhou com uma carinha de agradecimento, com a língua de fora, sorrindo, e correu livre, chacoalhando o rabinho.


Não basta ser tia (vamos adaptar um pouquinho, né?). Tem que participar.

domingo, fevereiro 04, 2007

Porque acaba de nascer







Memórias de meus pintos tristes

Estava eu na secretaria de uma sociedade beneficente, organizando uma papelada de um cursinho para alunos de baixa renda.
E no corredor estava uma mãe ralhando com sua filha, de uns 9, 10 anos.
__ Não, não e não! Pára com isso!
E eu toda xereta fui lá ver qual era a situação.
__ Ah, mãe, deixa, vai!
__ O que é que você quer?
__ Ela quer que eu compre um pintinho na feira. Mas não vou comprar, não! Em casa não tem onde pôr, depois o pinto morre.
__ Mas você não tem dó do pintinho? Ele vai morrer! - disse eu, toda metida, pronta para ajudar a mãe na tarefa de fazê-la entender a situação.
__ Ah... - desdenhou a menina.
Então veio a frase que me desbancou:
__ É só um real!!
"Puxa!", eu pensei, "o preço de uma vida..."
E vai responder o quê? A resposta dela acabou com o meu poder de argumentação.