terça-feira, janeiro 30, 2007

Passarinho, então me diz

A priminha do Márcio, tão linda, estava instigada:
"Mamãe, se duas pessoas ligarem ao mesmo tempo, o que acontece?"
"Como, filha?"
"Se duas pessoas ligam ao mesmo tempo para outra, acontece o quê?"
"Mas como assim?"
"Uma pessoa tenta ligar para outra, outra ao mesmo tempo, 'vou ligar', 'vou ligar'... o que que acontece?"
Achei tão linda...
Grandes questões existenciais.
Felizmente não há hecatombe nem curto circuito mortal por alguma coincidência cósmica e telefônica.

domingo, janeiro 28, 2007

Essa noite eu quero te ter


Quadra

Entre as louras e as morenas
E entre as brancas e as trigueiras
Eu por mim prefiro apenas
As segundas e as primeiras

Poema de Rui de Noronha, poeta moçambicano, editado pela primeira vez em 6/6/35.
Já se vê que o poeta era muito chavequeiro (ou xavequeiro?)

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Me dá vontade de saber onde está você

Estou morrendo de saudades de casa... quero arrumar a minha cama, lavar a louça, fazer comida, pintar, estudar, ver televisão e ficar em paz.
Cultivar a paz deveria ser uma coisa tão fácil de se fazer: a paz deveria vir assim que pensássemos nela, assim que quiséssemos nos sentir melhor, assim que precisássemos nos sentir melhor.
Teve uma época que eu sentia que minha casa era bem a rua: eu estudava de manhã, trabalhava à tarde, trabalhava de novo à noite, então o ônibus era o meu sofá de descanso e a minha televisão era a janela, a minha sala de jantar era o bandejão da faculdade, o meu quarto era qualquer canto onde pudesse encostar a cabeça e dormir nem que fosse por 10 minutos apenas. Acabava o dia e eu não me sentia voltando para casa, pois lá não era o lugar onde eu passava a maior parte do tempo. Era uma espécie de pensão para pernoite.
Então esta questão de lar era muito mais "bem resolvida", porque não importava onde eu estivesse, estava sempre em casa.
Agora tudo é inóspito, nenhuma escrivaninha é minha, nenhuma cama é minha, nenhuma mesa, nenhuma pia, meu umbigo não está enterrado em nenhum quintal.
Estou presa e bruta e metida em alguma garrafa e não sei como quebrar o encanto.
Concedo três desejos a quem me achar no oceano e decifrar esta maldição de Salomão que está tatuada em meu rosto.
Enquanto isso chove e a chuva de mim leva e lava e livra a minha mente.
Boa noite, Rosely.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Volto ao jardim

Agora em janeiro, passeei e passei alguns dias com minha mãe, pois ela estava de férias. Fomos ao Mercado Municipal, onde comprei um delicioso vidro de mel de flores de laranjeira.
Outro dia precisei ir ao centro, comprar um livro que tinha encomendado em um sebo. Na livraria R$ 60,00, no alfarrábio R$ 20,00, fui o quanto antes.
Ao passarmos pela Rua Marcondes, ela me mostrou o prédio onde nasceu. Disse assim que meu avô era zelador. A sogra de minha vó ficou rezando 12 horas na barriga de minha vó, e minha mãe não queria nascer. Nem parteira acompanhou, que eles não podiam pagar. Por fim, deu tudo certo, como vocês sabem (pois que estou neste momento escrevendo para vocês!).
Ela me mostrou as ruas por onde andava, o colégio onde estudou. Eu nem fazia idéia desta estória. Talvez ela já tenha me contado, e eu tinha esquecido...
Minha vó já é falecida. Morreu em algum tempo da minha memória e não sei nem dizer quando foi.
Outro dia vi uma foto dela, imagem que guardo em meu coração: ela sorrindo, na frente de casa, segurando a coleira do cachorrinho, que ela levava para passear todos os dias. Eu adorava ir com ela nos becos aqui perto de casa.
Se me perguntarem, digo que não sinto nenhuma saudades da minha infância. A muito custo me livrei da ingenuidade (mas nem toda) e com muita gula li muitos livros que eu queria conhecer. Naquela época, o não saber me incomodava. Agora já me acostumei com o não saber. Sei que não vou saber até o fim da minha vida, eu me conformei com a idéia. Continuo gulosa, entretanto.
Mas sinto saudades de minha vó. Fico contente quando penso que ela teve a oportunidade de conhecer o Márcio.
Elza, nome de mulher forte. Mulher de músculos. Mulher cheia de estórias que eu ficava ouvindo muito atenta.
Minha avó se formou em fisioterapia. Trabalhou no jóquei. Divorciou-se. Comprou casa.
Mulher que teve a mulher Virgínia que teve a mulher Rosely.
Elza e Rosely, duas letras só de coincidência no nome. Mas de sobrenome é igualzinho.
O que minha mãe me deu de maior presente na vida foi ter me levado, aos meus 13 anos de idade, a uma creche longe na favela, para eu ser voluntária.
Não estávamos dando esmola, nem entregando roupas ou brinquedos, coisas que foram minhas, mas que não tinham sido minhas de verdade. Porque não as tinha comprado. Eu pude dar o que de mim pertencia: eu mesma. O meu carinho, a minha ajuda nas trocas de roupa, as minhas estórias que eu inventava para as classes cheias de crianças.
Sabem o bem que faz a uma adolescente entrar numa sala e um monte de crianças gritarem seu nome tinindo de felicidade? Pois era assim mesmo: eu chegava na creche, alguma criança me via e ia logo anunciando: Tia Rosely! Tia Rosely! E num segundo se formava o coro.
E às vezes elas me pegavam desavisada, avançavam sobre mim que até me derrubavam no chão.
E eu beijava o rosto de uma por uma, feliz por me melecar toda.
A hora mais feliz era na do lanche, em que ajudava na distribuição de pão com manteiga e leite de soja em canecas de plástico. Depois que todas as crianças estavam servidas, sentava eu na cadeirinha e dividia do mesmo pão, do mesmo leite.
A hora mais triste era a de quando as mães chegavam, porque todos aqueles pimpolhos que me amavam me esqueciam e corriam para outras mulheres. Mas não me deixavam vazia. Eu saía plena.
Eu ia de sala em sala contar estórias. Toda quarta-feira à tarde. E fiz isso por mais de cinco anos.
Cresci rodeada de amor. Cresci interiormente.
Fui uma erva daninha que se segurou na terra na tempestade e ainda floriu.
Sou agora uma orquídea.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Sabiá

Estava outro dia discutindo com meus amigos sobre alguns problemas humanos da atualidade.
Para mim, o problema relacionado à falta de ética é o pior de todos.
A falta de ética, para mim, deriva do extremo individualismo que está tomando conta da sociedade.
Cada um por si. Conseguir se equilibrar neste mundo de dificuldades não importa como. À base não somente do próprio esforço, mas a partir do trabalho do outro.
Há quem saiba de autores que não escrevem as obras, apenas assinam. E para mim não importa o quanto pagaram a quem escreveu, isso não é coisa que se faça.
No ano passado, uma mãe ficou chorando migalhas para eu dar descontos em aulas particulares para sua filha, matriculada em um grande e caro colégio de um bairro nobre. Desconfiei que havia alguma coisa errada e não fui no discurso daquela mulher. Acabei não dando as aulas porque não quis alterar o preço de meu trabalho. Pouco tempo depois, esta mesma mãe me telefonou oferecendo dinheiro para que eu fizesse um trabalho escolar de sua filha. E nesta hora, "preço não importava".
Há falta de ética nas relações entre pessoas e nas relações das pessoas com o mundo. Desperdícios de água, de materiais, de dinheiro são exemplos típicos do quanto pode chegar a insensibilidade com a situação de escassez em que está e para a qual caminha a humanidade.
Até posso entender que alguém gaste uma fortuna comprando uma televisão enorme, um aparelho de som, qualquer outra tralha cibernética, e mais utilmente em tecnologias de saúde.
Agora utilizar o discurso de que é certo que cada um gaste o dinheiro que tem da maneira que mais lhe apraz pelo motivo de que é de legítima propriedade, ah, isso sinto muito não cai na minha lógica.
Porque digamos hipoteticamente que o mesmo indivíduo que gaste uma fortuna no bingo (para se divertir perdendo dinheiro, e isso é algo que me desafia o entendimento) muitas vezes pode estar regulando o quanto vai dispender na própria formação, se vale a pena colocar a mão no bolso. Pode achar que um salário mínimo é suficiente para seu funcionário porque o justo é o acertado.
Enfim, quantas professoras não reclamam que os alunos não demonstram mais o respeito sincero? Tem gente que afirma por que a escola precisa se adequar mais às novas tecnologias e aos novos tempo. Acredito que o fator exemplo do que se vivencia em casa conta muito mais do que qualquer outro.
Nada como aliar os seus interesses e as suas ambições não somente pelo seu bem e da sua família, mas também às necessidades do mundo. Porque quando a gente passa a adotar atitudes, posturas e pensamentos de modo a beneficiar a gente e outras pessoas e a natureza, mesmo que seja uma pequena contribuição, vive-se com leveza, com consciência, com lucidez, com o coração leve e mais feliz.
E plantamos amigos que são anjos nas horas que precisamos, e melhoramos nossa saúde e nosso bem estar.
Enfim, há muitos benefícios de se adotar uma escolha ética a favor de todos nós.
A plantação de paz tem que ser todo dia.

domingo, janeiro 14, 2007

Eu não vejo a hora de te dizer aquilo tudo que eu decorei


Feliz ano novo, pessoal!
Não tenho escrito não por falta de vontade, mas falta de instrumentos mesmo.

Em breve eu volto, tá?

(não estou viajando, não, hehehehehe. Esta foto é do começo de 2006, na represa de Avaré).