sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Nunca perde essa mania

Alguns pensamentos que eu tive outro dia e que vou agora compartilhar despretensiosamente com vocês.


Reparem nesta pintura ao lado: chama-se "O filho do carteiro".


É um quadro de Van Gogh.


Ontem eu o vi pessoalmente no Masp, e o que me chamou a atenção na hora foi o boné (pelo formato) e a roupa do menino (por ser azul), porque me deu a impressão de se tratar de um uniforme de carteiro.


Ao procurar na internet outro quadro de Van Gogh, "O carteiro Roulin", percebi que realmente há semelhanças nas vestimentas.


Só que nem a roupa nem o boné são de adultos, o que indicaria que o menino estaria brincando com o uniforme do pai. Não: ele está, na verdade, vestindo a profissão da família.


Ou seja, apreendi a seguinte mensagem: que esta criança, por ser criada por uma família humilde, não terá muitas chances de seguir uma carreira diferente, um destino diferente. Por uma impossibilidade social.


E mais: observem o seguinte trecho:



Sempre que possível, van Gogh convencia o povo de Arles a posar para ele, registrando assim para a posteridade os médicos e comerciantes que faziam parte de sua vida. O carteiro Joseph Roulin era um homem simples que nunca tinha visto um pintor antes, e que parece sempre um tanto tímido e constrangido em vários retratos seus feitos por van Gogh. Em uma carta a um amigo, van Gogh descreveu Roulin como "um tipo socrático, não menos socrático por ser um pouco alcoólatra e ter, consequentemente, um rosto muito afogueado. Sua esposa tinha acabado de dar à luz e o bom homem resplandecia de satisfação. Ele é um velho republicano terrível, como Père Tanguy. Ficou tão enrijecido ao posar que pintei-o duas vezes, a segunda em uma única sessão."


http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/artes/vangogh/Van_roulin.htm



Se o carteiro tem o rosto afoguetado pelo alcoolismo, é interessante notar que o rosto do menino também o é.
Outra premonição?
Reparem também nas mãos tensas, deformadas, próprias de homens trabalhadores. Para mim, dão até a sensação de sofrimento. O que se pode confirmar pelo olhar carregado de ambos.
Mas há diferenças muito nítidas entre o homem e o menino: a postura.
Se o homem está endurecido, o menino está bem à vontade.
Não endureceu ainda.
Está em uma tela quente, ao contrário da tela fria do homem.
Não houve ainda a desilusão. Não houve ainda a compreensão do mundo e de suas imposições. O confronto entre os desejos, as esperanças, e as perdas, os sonhos desmoronados.

2 comentários:

Eu canto no chuveiro disse...

Que aaaaaaaaaaaaaula!

Ro, oq houve? Me contaaaaaaaaaa!

Érica Antunes disse...

Eu fui testemunha dessa epifania!!!!! Maravilha, Rosely, maravilha!!!!!!!
Beijão procê!!!!