domingo, abril 15, 2007

Quem quer?

Teve uma época, quando eu era criança, que na escola teve uma febre de dip lik. É um doce assim: um pirulito que se mergulha em um pó adoçado e aromatizado enquanto se chupa.


Eu passei um tempão babando nos dip liks que as crianças chupavam na minha frente o dia inteiro.


E eu naquela baita vontade.


Até que um dia, não sei por que cargas d'água, eu cheguei na escola com um dinheirinho na mão. Fui correndo no pipoqueiro comprar o meu dip lik e me saborear e matar toda a minha vontade de vários tempos.


Mas aí, mal abri o envelope do dip lik, veio correndo uma menina na minha direção que eu nem conhecia:


__ Você é louca?! Não pode chupar este pirulito! Ninguém mais está comprando isto!


Fiquei meio refém daquele alerta, curiosa com o que diabos poderia ter de tão ruim naquele doce, às vistas tão inofensivo.


__ Tem ácido neste pirulito!! - anunciou a menina, toda preocupada.


__ Veja aqui no rótulo: ácido cítrico!


Puxa! Ácido no pirulito! Pareceu-me bem razoável que eu tinha escapado de um grande perigo. Pensei que o pirulito pudesse aos poucos ir corroendo as minhas entranhas.


A menina jogou fora o meu dip lik.


Socorreu-me de um grande problema.


Mas ela não pôde me salvar da vontade que eu passei antes e depois deste episódio.



...

Muitos anos depois, na verdade uns dois ou três anos atrás, eu estava em um jornaleiro e vi a embalagem do dip lik. Uau! Eu poderia então sanar a minha vontade de tantos anos.

Abri, sorridente e vitoriosa o saquinho do dip lik. Ainda era todo o mesmo, pelo menos no rótulo.


Mas era tarde demais.


O dip lik tinha perdido todo o gosto da infância.