segunda-feira, agosto 18, 2014

[FIC] Mas eu me mordo de ciúmes


Quando uma pessoa devaneia, nada pode impedi-la. Quando sai do chão da sua realidade, pode voar, pode ir para onde quiser. Está livre. Livre.

Óbvio que esta fic é baseada em fatos fictícios, nada do que eu digo aqui é verdade!

Fechei a tampa do lap top. Minha face já estava molhada de lágrimas. Não era possível!! Um pesadelo esse ciúmes. Como posso ter tanto ciúmes? Como posso assim sofrer sem nem saber se as minhas desconfianças são verdadeiras, como posso sofrer com uma possibilidade tão incerta e talvez até remota.
Outro dia estava pensando: o Reid está tão lindo, tão fortemente lindo, tão pó de estrela lindo, tão fundo do oceano lindo, tão meu céu da boca cheio de estrelas do mar lindo, tão magicamente lindo, tão vontade chorar só de ver de tão lindo, tão montanha russa abaixo de tão lindo, tão descabelado de tão lindo, tão olheiras, tão lábios, tão olhos lindos, tão branquelo de tão lindo, tão venha ver o sol de tão lindo, tão tapa na cara de tão lindo, tão quero morrer se não te ter de tão lindo, tão falta de ar de tão lindo, tão me morde até arrancar pedaço de tão lindo, tão vamos fechar os olhos e dormir imediatamente de tão lindo, tão quero meter a mão para dentro do meu peito e espremer meu coração até virar bexiga murcha de tão lindo, tão não tenho medo de morcego de tão lindo, tão vitrola, viola, banjo, violão, gaita e piano de tão tão tão lindo, tão vou sair quebrando tudo de tão tão tão lindo, tão o mundo está tremendo de tão tão tão lindo, tão minha mão caiu de tão tão tão lindo, tão injeção de adrenalina de tão lindo, tão to morrendo, tão gritei até perder a voz, tão insano, tão constipado, tão arrancar os cabelos, tão despenquei de um abismo de tããão lindo, tão perdi a memória de tão lindo, tão meigo de lindo, tão cheio de si de lindo, tão casa fechada de tão lindo, tão porta trancada, tão pé descalço na areia, tão correndo na grama, tão meu vocabulário, minhas sinapses, meu oxigênio e do mundo de lindo, tão pé de manga, tão peixe saltando contra a água corrente, tão impacto da queda, tão noite totalmente escura, tão músculo, mosca, máscara, milho, místico, mola, mórbido, musgo, milímetro de tão lindo, tão escancaradamente indubitavelmente indebitavelmente indecifravelmente indecentemente lindo que eu pensei que começaria a ser incoerência que ele continuasse solteiro.
Não faria o menor sentido um homem deste vazio.
Porém, não faria sentido fornecer a Parsifal uma esposa, pois que o Graal é a sua maior força propulsora, sua razão de vida.
Este personagem definitivamente entrou para a galeria dos paradoxos inexplicáveis, para a ala dos 90% queimados a deslindar, cuja complexa completude incompleta e singular nunca encontrará campo confortável de comparte.
Ou seja, não oferecer uma companhia é incoerente, oferecer é quebrar o mito e o cerne de sua existência.
Como aceitar passivamente que o lindo Spencer Parsifal Reid possa dividir sua cama com alguém?
Não, impossível aceitar. Impossível aceitar que alguém sequer rele perto de sua sombra.
Isso porque toda e qualquer mulher que se aproximasse dele seria a odiável Kundry. Kundry que esconde em sua saliva o veneno amargo da ferida da lança ácida que causa dores incomensuráveis.
Meus pensamentos pareciam sufocar-me, até que olhei para a porta do quarto e vi... Jack Malone (Without a Trace)!
“Oh, Jack!...”, estremeci, murmurando aliviada. “Estou tão feliz que você está aqui!”
“Soube que você estava precisando de mim...”
“Estou... estou tão triste com a possibilidade de Reid...”
“Não fale mais nada! Não quero que você pense em mais nada agora, porque agora você é minha e de mais ninguém!”
Eu não poderia esperar menos de Jack Malone. Não há homem mais seguro de si quando entra no quarto de uma mulher chorosa que precisa de seus afagos. Não há homem mais protetor e decidido. E agora reaparecia em minha vida neste momento em que me desmanchava em desesperança. Já os acontecimentos das últimas semanas tinham sido tristes e naquele dia eu mal podia acreditar no que a Silvinha havia postado na Comunidade Criminal Minds: de que talvez a nova atriz que entrasse no elenco fosse namorada de Spencer. Não sei o que me deu, fiquei tão louca, irritada e enciumada... senti as bochechas quentes e sensação de febre. Isso porque não era uma afirmação, era apenas uma especulação.

Não é o Reid ficando com alguém, é alguém falando que talvez o Reid ficasse com alguém. Meus ciúmes foram tão mortais quanto um golpe samurai em meu coração. Entrei em pane. Avião em pane, caindo, rodopiando, soltando fumaça, pronto para espatifar e explodir e acabar com tudo.
Aí Malone me tomou em seus braços, me pegou no colo, me jogou na cama e me aconchegou no meio dos edredons. Malone nunca deixaria nada me acontecer. Ele, sim, é um homem em quem se pode confiar. Ele prefere ser atropelado e levar um tiro do que aceitar que algo horrível aconteça. Malone tem autorização para carregar uma metralhadora, certamente que tem. Ele poderia arcar com uma bazuca. Se ele se por algum acaso do destino precisasse lutar contra o Reid, o destroçaria em pedacinhos sem vacilar, sem pestanejar.
Malone, meu amor, meu querido e confiável reitor, que me segurou pela cintura, que me confortou sem hesitação em seu corpo, seu corpo sólido e forte, não fraquinho como o do Reid, não sensível e delicado como o do Reid. Malone é todo másculo, tem mãos grossas, ossos grossos, nariz grande. Homem. Homem com cara de homem, não com trejeitos de mulher. Homem com defeitos, com voz de homem, homem que não suspira.
E eu, enfim, parei de chorar. Só ele para conseguir me consolar naquele momento, só ele para me tirar do desespero. Porque quando tudo parece perdido, não há pessoa mais adequada para aparecer e meter o pé na porta para fazer o salvamento.
“Ai, Jack Malone, Jack Malone, meu amor, estou tão feliz que você está aqui! Não sei nem como agradecer que você veio até aqui só por minha causa!”
“Eu nunca te abandonaria. Nunca. Se você precisa de mim, eu já estou aqui”.
“Nunca pensei que eu me sentiria assim, esse ciúmes me incomoda tanto!”
“Mas por que você tem tanto ciúmes assim?”
“Eu não sei por que!”, eu me levantei, andava de um lado para o outro, gesticulando – “eu nunca fui uma pessoa ciumenta! Eu simplesmente não entendo essa minha reação! Não é de enlouquecer, isso? Nem na vida real, nas ocasiões em que tive realmente motivo para perder a cabeça de ciúmes, eu não perdi! Nem quando seria completamente natural que eu tivesse criado cena de ciúmes não fiz!”
Mas Malone tinha uma resposta para as minhas afirmações:
“Isso não é verdade”.
Sim, este é Jack Malone! Porque até mesmo quando é preciso dizer a verdade sem dó, ele assim o faz. Não quer saber de dizer apenas aquilo que queremos ouvir.
“Bom...”, titubiei.
“Você pensa que eu não te conheço. Mas nós passamos muito tempo juntos, tempo suficiente para você me contar muitas coisas que aconteceram na sua vida. Vamos relembrar quando uma vez no ônibus você fez um escândalo tão grande com um moço com quem você estava saindo que uma mulher até reclamou que você estava gritando demais. Ou já se esqueceu disso?”
“É verdade”, sentei, quase amuada. “Eu mantinha um relacionamento aberto com uma pessoa, e na hora em que percebi que eu estava envolvida demais para lidar com um possível triângulo amoroso, desisti dessa ideia. Eu cheguei para o moço e disse que se ele quisesse continuar comigo, que ficasse só comigo. Ele não aceitou. Ele me disse que se eu quisesse continuar com ele, que eu aceitasse que ele ficasse com outras garotas. Aí eu perdi a cabeça, perdi mesmo. Gritei muito com ele. Nem me importei que estávamos no ônibus, com um monte de gente por perto”.
“E aquela vez que você foi visitar um amigo seu e viu uma garota saindo do apartamento?”
“Ai, eu tinha me esquecido disso... eu não sei o que me deu... eu não queria ser a namorada dele, não estava interessada nem em dar uns beijos nele... mas ver aquela menina saindo do apartamento dele me deixou tão magoada... ele depois me falou que era apenas uma amiga passando por ali, bem como eu que estava ali sem nenhuma outra intenção que não a amizade. Não sei por que fiquei tão possessa”, concordei.
“Pois então, admita de uma vez por todas: você é uma pessoa ciumenta, sim. Sente ciúmes, raiva e decepção como qualquer outro ser humano. Sentimentos são inerentes. Não há como escapar aos sentimentos. Você apenas é uma pessoa que não sente ciúmes por qualquer coisa... se você não se sente ameaçada, não sente ciúmes. Mas se é confrontada por motivo qualquer, sente ciúmes, sim!”
Não tinha como discordar. Eu sou passível a sentimentos como raiva, ciúmes, frustração e outros, como qualquer outra pessoa. Malone não poderia ter sido tão verdadeiro em suas palavras, tão certo em suas conclusões”.
“Rose?”
“Sim?”
“Você acha que fica nervosa com o Spencer para exteriorizar raiva guardada dentro de você? Você acha que ele pode ser uma válvula de escape para que você expresse sentimentos, como frustração e raiva que deveria ter expressado em algumas ocasiões, mas ao invés disso você ficou condescendente e quieta?”
“Pode ser, Malone, não sei...”
“Talvez Reid não tenha nada a ver com isso no final das contas...”
“Não acredito que você o está defendendo”
“Ele te faz feliz”
“É verdade. Mas tenho pensado tanto em parar de pensar nele...”
“Talvez isso aconteça... assim como você parou de pensar em mim...”
Eu olhei para baixo, quase envergonhada...
“Mas se você parar de pensar no Reid, seria mais legal que fosse porque a paixão simplesmente sumisse de seu coração... não que fosse por algo que ele nem fez...”
“Como você sabe me dizer aquilo que eu realmente preciso escutar?”
“Porque eu te conheço... você me permitiu te conhecer”, ele carinhosamente cutucou meu nariz com o punho.
“Ai, Jack, Jack, Jack Malone... você é tão perfeito… queria estar apaixonada por você!”
“Eu sei”
Abracei Malone muito forte, muito agradecida por sua presença, por suas palavras, por sua companhia num momento tão crucial. Mas até adivinhava que ele fosse me dizer as seguintes palavras em seguida:
“De mim você nunca teve ciúmes!”
Eu dei risada.
“Você é tão diferente do Reid! Não sei como fui me apaixonar por ele... quer dizer, é óbvio o motivo de eu ter me apaixonado por você... você é tudo o que eu gosto de um homem... fisicamente, emocionalmente, todos os ‘mentes’...”
“Isso porque você gosta de homens explosivos”
“Sim...”, eu novamente dei risada.
“Não sei o que o Reid tem... ele é tão... único... não tem ninguém no universo como ele...”
“Isso não é verdade!”
“Ai, Malone, você sempre me desafiando!”
“Você mesma já disse que o Sheldon se parece com o Reid em alguns aspectos!”
“Sim...”, concordei, embora um pouco contrariada, “em alguns aspectos!”
“Então o Reid não é tão único assim!”
“Malone, quando as pessoas lerem essa minha fic, terão certeza de que eu sou completamente louca!”
“E daí?”
Eu dei risada. Nunca me importei com o que as pessoas pensam de mim, nunca me importei de ser diferente. Na escola, na faculdade, na empresa, sempre eu um peixe fora d’água, sempre a destoante.
Malone segurou meu queixo, olhando-me nos olhos.
“Fale-me mais sobre essas pessoas que te feriram. Conte-me sobre essas pessoas que te enganaram e que você não se defendeu, que você nem ao menos se permitiu a raiva”. Malone quando fala sério, fala mesmo. Ele e sua voz rouca transmitem tranquilidade e compreensão.
“Uma vez,” iniciei a minha estória, “isso no cursinho ainda, eu devia ter uns 17 anos...”
“A idade das paixões intensas”.
“Eu telefonei para o menino com quem estava saindo”, continuei, “mas quem atendeu o telefone foi uma amiga minha. Sabe, ele não era meu namorado, mas a gente já tinha se beijado, eu gostava muitíssimo dele, e essa minha amiga sabia disso, sabia que eu gostava dele desde o começo do ano! E ela nem estava no cursinho desde o início! Eu passei o ano todo esperando que ele olhasse para mim, que me desse bola e que me beijasse, sabe o que é conviver com alguém que você gosta todos os dias? E justamente no final do ano, às vésperas do vestibular, ele faz isso comigo? Fica comigo só para em seguida transar com uma amiga minha?”
“Qualquer um teria ficado louco da vida”
“Mas não eu... eu já estava tão angustiada com as provas, achando que não tinha muita chance porque no vestibular anterior eu tinha ido tão mal... eu não pude reagir, não pude ficar com raiva nem nada...”
“E você fez bem em não ter feito nada! Você sabe que estas provas foram decisivas na sua vida, e você passou! Se você tivesse ficado deprimida, o que teoricamente teria sido o mais óbvio que acontecesse, isso teria atrapalhado a sua vida... sua vida era e é mais importante do que qualquer pessoa naquele momento, qualquer pessoa”.
“É verdade”, concluí, pensativa.
“Mas essa não foi a única vez que você se sentiu traída e não reagiu...”
“Sim, muitos anos mais tarde, um namorado meu ficou na dúvida quanto à sua sexualidade... eu percebi que ele começou a ter crises existenciais e falava muito sobre um amigo dele... até que chegou um ponto em que ele só falava desse amigo...”
“E você foi compreensiva com a situação!”
“Sim, lógico que fui! Deve ser tão difícil não querer ser gay e se ver confrontado contra os próprios desejos! Eu não teria nenhum direito de julgá-lo, não teria nenhum direito de impedi-lo a ser feliz e a se assumir como pessoa que ele é”
“Mas ele já tinha tido outras namoradas antes de você...”
“Sim, eu não era a sua primeira namorada...”
“E ele escolheu justo VOCÊ para suportar e amparar esta crise dele?”
“Bom, não foi exatamente uma escolha, não é verdade? Quem escolhe uma coisa dessas? Quem escolhe estar em conflito consigo mesmo? E quem sou eu para criticar as suas escolhas?”
“Vamos só voltar um pouco na estória... quanto tempo mesmo você ficou apaixonada por ele, esperando que algo acontecesse entre vocês, quanto tempo você esperou que ele te beijasse e gostasse de você?”
“Puta merda! Não tinha me ligado nisto! Eu fiquei o ano todo esperando por ele!”
“Assim como você passou o ano todo apaixonada pelo caso anterior...”
“Sim, eu nunca tinha pensado nessa semelhança... que coincidência!”
“Então, vamos lá: você passou o ano todo apaixonada por ele e ele não sabia que era gay, assim como você ficou o ano todo apaixonada pelo seu colega de cursinho, aí quando seu colega finalmente resolveu te beijar, ele também decidiu transar com sua amiga... e quando este namorado finalmente resolveu te beijar e gostar de você, aí ele resolve que é gay? Onde você conheceu este seu namorado mesmo?”
“Na escola... eu era professora, ele era professor, eu tentava não deixar transparecer o que sentia porque trabalhávamos juntos e eu não queria complicar as coisas...”
“Resumindo, nas duas mais cruciais situações de traição consumada e comprovada da sua vida, em que você já tinha tido tempo muito mais que suficiente para desenvolver sentimentos fortes e ainda em situações que você precisava de uma estabilidade emocional para enfrentar grandes desafios que estavam te afetando naquelas épocas, naquelas oportunidades você não gritou, não ficou com ciúmes, não chorou, não foi para o quarto desconsolada, não fez absolutamente nada?”
“Não...”, minha voz até parecia sumir, meus olhos arregalados e surpresos quase não se moviam. Suando.
“Então, Rose, eu acho que sei porque você está assim tão desolada de ciúmes do Reid!”
“Ai, Malone... não é possível! Mas nosso passado não nos deixa em paz, não? Fica sempre nos incomodando, fica influenciando os outros relacionamentos que a gente tem na vida?”
“Nem sempre”, adicionou Malone, “só atrapalha enquanto a gente não resolve dentro da gente essas situações que não tiveram um devido fechamento. Assim que a gente compreende pelo que passou, as coisas começam a melhorar, a gente começa a superar o que tinha ficado faltando de superar”.
“Malone, eu não sei o que seria sem você. Não é à toa que você é um chefe do FBI”, eu ri suavemente, apoiada em seu abraço. “Muito provavelmente eu tenho ciúmes do Reid por causa dessas coisas que me aconteceram, parece tipo uma oportunidade de eu vivenciar a raiva que eu deveria ter vivido e superado há muito tempo atrás. Será que vou conseguir administrar melhor o que sinto pelo Reid agora?”
“Olha, Rose, eu no Without a trace fui casado, tinha duas filhas, tive uma outra mulher com quem quase tive um filho, beijei a Samantha, assumi o filho dela como se fosse meu e você não teve nenhum ciúmes...”
“É... vamos ver agora como vou me sentir em relação ao Reid! Não sei o que vai acontecer... mas graças a você vou descobrir com mais serenidade...”
“E parece que agora você vai estar mais preparada também para ver o final da série Without a trace...”
“Sim, eu vou ter coragem para assistir os últimos episódios que não assisti até hoje! Não sei como te agradecer!”
“Sabe, sim! Continue gostando de mim!”
Eu abri um enorme sorriso. Como é bom essa sensação de amar. Como é bom se sentir apaixonado e feliz. Como se tudo estivesse bem, como se nada se desmoronasse. Como se tudo fizesse sentido.
Eu abraço meu travesseiro, na expectativa do que acontecerá agora em Criminal Minds, na expectativa de ver o Reid novamente. Ai, que meu coração até pula só de imaginar. Meu querido, amado e maravilhoso Reid, querido Reid do meu coração. Meu coração está quentinho porque pensa carinhosamente no Reid...

Postada no orkut no dia 30/06/2010

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