segunda-feira, agosto 18, 2014

FIC Uma manhã comum de um homem extraordinário

Spencer Reid acorda em seu modesto apartamento.
A janela entreaberta deixa passar um pouco da luz da manhã.
Observa as partículas suspensas enquanto espera seu despertador tocar para se levantar.
Como é bom acordar assim distraído, os olhos abertos, os pensamentos despertos.
Enfim, o despertador toca.
Já está tudo organizado para se iniciar a rotina: a roupa do dia estendida em cima da poltrona, os sapatos ao lado, a camisa no cabide.
Vai ao banheiro, se espreguiçando e bocejando.
Seu pijama branco de listras azuis mal se amassou, mas em compensação o seu cabelo... que bagunça!
Reid tira a sua roupa, toma um banho rápido. O sabonete, o mesmo de todos os dias. Sempre a mesma marca de shampoo. A toalha, apesar de trocada a cada dois dias, a mesma.
Ao sair do banho e se enxugar, coloca o roupão e troca de chinelos: deixa os de borracha em ao lado do lavatório e coloca os de pano.
Penteia os cabelos, escova os dentes.
A escova, trocada a cada mês, mas sempre a mesma.
A pasta de dente? A mesma.
Se alguém abrisse a porta da despensa, verificaria o estoque de produtos todos iguais e dispostos em paralelo.
Já no quarto, se troca.
Veste-se sempre na mesma ordem: primeiro as cuecas, que enfia por baixo do roupão, depois as meias, em seguida a camisa, a calça, o cinto, a gravata, o colete, e por fim os sapatos.
Confere no espelho se está todo alinhado.
Na cozinha, já está tudo preparado: o pó do café está na cafeteira, é só ligar o botão.
Também a torradeira já está em cima do balcão, é só adicionar o pão e apertar o botão.
A frigideira também está no fogão. Ovo e bacon, é só acender o fogo.
Enquanto o café da manhã se produz, Reid busca os jornais do dia. Cinco. E mais duas revistas.
Serve-se no mesmo prato de todos os dias.
Enquanto come, dedica-se à sua leitura.
Termina, dobra todos os papéis, embrulhando-os no cesto de recicláveis.
Lava a louça toda com quietude.
Dispõe tudo no lugar para o próximo dia.
No quarto, troca de lugar o chinelo de borracha pelo de pano. No dia seguinte, fará tudo a mesma coisa.
Uma última conferida no espelho.
Arma, documentos.
Relógio.
Está bem na hora.
A mesma hora de ontem, a mesma hora de amanhã.
Ao trancar a porta, Reid suspira.
Como será o seu dia? Impossível saber. Nenhum dia normal em toda a sua vida. Nenhuma possibilidade disso acontecer. Mas uma manhã normal, uma manhã como todas as outras.
Reid sai tranqüilo, sabendo que nada será tão extraordinário quanto a sua própria quietude.
Sua deliciosa solidão, repleta de pensamentos, reflexões e ponderações.
Tudo perfeito, como um ovo que estala na frigideira.
Como uma rotina.
Uma boa e reconfortante rotina.

Postada no Orkut no dia 19/09/2009

Nenhum comentário: