sexta-feira, setembro 26, 2014

FIC - "Amor lacrimogênico"

“Precisamos urgente de uma ambulância! Repito! Precisamos urgente de uma ambulância! Oficiais em perigo! Repito! Oficiais em perigo!”
No início daquele dia, a equipe BAU chegara a Lakeland, cidade no interior da Flórida. O detetive local, o senhor Lepot, após constatar três mortes aparentemente naturais por ataque cardíaco, comparecera ao velório da quarta vítima, desconfiado da semelhança de condições em que foram encontrados os corpos. A autópsia nada constatara a não ser a confirmação do infarte. Ao se deparar com o defunto, surpreendeu-se com sua estranha coloração. O curso que tinha feito com o CSI Grisson, no passado, em Miami, lhe dera algumas dicas do que suspeitar em uma análise forense. Lógico que uma variação na cor de pele é esperada, mas aquela em particular ele nunca tinha visto. Chegou a passar os dedos no pescoço do morto para saber se ele estava com alguma maquiagem.
Procurando respostas, retomou as investigações nas casas das vítimas, refazendo o percurso de suas atividades logo antes da morte na mesma tarde.
Eram dois homens e duas mulheres aparentemente sem nenhuma relação entre si. Bairros, classes sociais e estilos de vida diferentes.
Ao reunir evidências de que as quatro vítimas foram encontradas todas em uma mesma posição, sendo que objetos ao redor também mantinham uma organização específica, chamou ajuda dos profissionais de Quântico.
Apesar do pesar da família, o recém-enterrado foi exumado no dia seguinte à morte, assim que JJ pôde resolver a burocracia local. Era a melhor possibilidade de mais pistas sobre as misteriosas mortes antes que um novo corpo aparecesse.
Garcia não encontrou nada de anormal no exame toxicológico ou uma evidência particular nas finanças das pessoas envolvidas.
A equipe fez um levantamento mais detalhado das vítimas e descobriu que todas haviam algo em comum: o consumo de maconha, provavelmente adquirindo as drogas pelo mesmo traficante.
“Alguma reação alérgica não detectada de alguma substância misturada à erva consumida?”, questionou Prentiss.
“Pouco provável”, rebateu Reid, “uma reação alérgica revela sintomas aparentes, como enfisemas, mudança local de coloração da pele, colapso pulmonar e consequente parada respiratória, inflamações... nada disso foi percebido na autópsia. Mais provável a introdução deliberada de uma substância danosa ao organismo que causasse a síncope, sem relação direta com a concomitância do consumo da maconha”.
“A autópsia não revelou substâncias estranhas no conteúdo estomacal da última vítima. Não pode ter ingerido”, observou Morgan.
“Bom, uma substância pode ser introduzida no organismo de diversas formas. Na idade média, alquimistas desenvolviam perigosos venenos que só de entrar em contato com a pele podiam levar pessoas saudáveis à morte instantânea. Além do mais, existe a possibilidade de a substância ter sido absorvida pelas paredes do estômago de forma tão rápida que se tornou imperceptível sua presença”, acrescentou Reid.
“Um exame toxicológico de alto espectro apurado pode levar dias. Mas parece ser a nossa única opção. Vamos pedir uma análise completa enquanto continuamos com a investigação”, concluiu Hotch.
Logo após a reunião com os principais policiais da cidade, para informá-los sobre as últimas novidades da investigação e características do unsub já constatadas pela conclusão dos profilers, o legista apareceu com uma nova perspectiva sobre seus resultados.
“O interior do nariz da vítima está danificado. Percebi também necrose precoce dos tecidos da traquéia e da laringe. Minha opinião é de que algo que foi inspirado tenha machucado estes órgãos. Mais uma coisa: seja lá o que tiver causado isto, não foi instantâneo. A inalação constante e prolongada de alguma substância pouco abrasante teria provocado tais lesões”, disse ele.
“No fim das contas, Reid pode ter acertado. Podemos estar diante de um alquimista que tenha inventado algum tipo de gás tóxico”, ponderou Rossi.
“Mas que certamente não ressurgiu da idade das trevas para assombrar a cidade. Cada vez mais as evidências apontam para um traficante de drogas”, acrescentou Morgan.
“Plenamente plausível. Muitos traficantes de drogas são pessoas instruídas, muitas vezes com alto conhecimento de reações químicas e substâncias letais”, explicou Reid.
“O que me leva ao meu próximo comentário: há algumas abrasões não importantes nos joelhos da vítima. Não revelam uma queda forte, mas podem indicar perda de equilíbrio”, concluiu o legista.
“Alguma coisa deixamos passar nas nossas investigações. Precisamos agora nos concentrar na busca desse traficante tendo em vista tudo o que sabemos até agora. Eu, Prentiss, Morgan e Rossi vamos para as ruas interrogar pessoas para procurar por pontos de drogas e outros dados. Reid, continue sua análise geográfica, quem sabe podemos começar a restringir a área de busca. JJ, entre em contato com Narcóticos, veja o que pode descobrir das atividades desta cidade”, comandou Hotch.
Já passara há muito a hora do almoço e os agentes ainda estavam nas ruas, sem muitos avanços.
“Este traficante tem um modo muito peculiar de distribuição de suas drogas. Recolhe muita informação sobre os usuários, mas quase nada se pode dizer dele! Mal conseguimos uma descrição física substancial!”, desabafava Prentiss, quando JJ interrompeu com sua ligação:
“Hotch, tenho informações do departamento de narcóticos! Eles estão com informações de um galpão onde estão acontecendo atividades suspeitas. Eles ainda estavam reunindo provas, mas infelizmente a situação se tornou pior e eles resolveram colaborar, entregando o endereço apesar de não haver material suficiente para um mandado ou apreensão. Uma garota de 17 anos hoje de manhã saiu mais cedo da aula para comprar extasy para ir a uma festa hoje à noite e ainda não voltou para casa. Os pais estão assustados por estarem a par de nossas investigações”.
“Onde é este galpão?”, perguntou Hotch, apreensivo.
“Estou passando o endereço para o seu GPS. Você e Prentiss são os mais próximos do local. O detetive Lepot e seus homens já estão informados e indo para lá também. Chegarão 10 minutos atrás de você”.
“O que está acontecendo? Deixem-me passar!”, gritou Morgan com os policiais, que já haviam isolado a área.
“Infelizmente não posso autorizar, senhor! Esta área pode estar infectada por um gás tóxico e invisível”, informou o policial.
“Normalmente as pessoas relacionam gases com cheiros ou aparências fortes, como uma nuvem de fumaça ou o odor característico do gás de cozinha, mas na verdade um gás pode ser absolutamente inodoro e imperceptível a qualquer sentid...”, Reid é interrompido por Morgan.
“Reid! Reid! Agora não!”
O policial olhou para Reid com interrogações no rosto.
“Você se aproximou da área de alguma forma? Parece infectado! Acho melhor ficar em observação”, desconfiou o policial.
“Não, não! Ele é assim mesmo! Apenas me informe com detalhes o que aconteceu aqui!”, pediu Morgan.
“Bom, atendendo um chamado, detetive Lepot e equipe chegaram aqui há mais ou menos uns 15 minutos. Talvez um pouco menos. Informaram por rádio que encontraram no interior do galpão uma garota aos berros, dando gargalhadas, e dois agentes em estado de delírio. Logo em seguida, começamos a ter problemas de comunicação e perdemos o contato! Depois fomos notificados a proibir a entrada de qualquer pessoa no interior do galpão e estamos esperando trajes especiais para que os paramédicos possam entrar e atender as pessoas. Uma das pessoas, e não sabemos quem, de vez em quando está disparando tiros, mas não se sabe se há algum outro perigo. Nada indica que haja ainda traficantes na área. Há indícios que as pessoas lá dentro possam ter se contaminado por algum tipo de substância alucinógena”
“... e letal!”, acrescentou Morgan, pondo a mão na cabeça, em sinal de desespero.
Quando Hotch e Prentiss saíram do carro, tudo parecia vazio e silencioso. De armas na mão, avaliaram o terreno e decidiram entrar no galpão, já que a enorme porta de correr estava entreaberta. Assim que começaram a avançar no ambiente empoeirado e escuro, começaram a ouvir vozes. Hotch sinalizou a Prentiss que deveriam se separar e se comunicou rapidamente com detetive Lepot que estava quase chegando. Ao atravessar um biombo, Prentiss acionou sem querer um alarme caseiro montado com fios de nylon, alertando o traficante que estava acompanhado de sua próxima vítima. Ao ouvir passos correndo, Prentiss e Hotch se dirigiram imediatamente à voz da garota que não parava de falar. Ao contornarem um contêiner, encontraram-na no chão, deitada de costas, resmungando para o teto. Prentiss se aproximou dela, tentando ver se estava consciente do que fazia, Hotch continuou a procura pelo traficante.
De repente, ele se voltou à área de onde tinha acabado de sair porque Prentiss estava gritando por ele:
“Hotch! Hotch! Hoooootch!!”
Mas assim que ele chegou perto de Prentiss, nada parecia ter mudado de lugar.
“Hotch, eu preciso te falar uma coisa, uma coisa urgente!” – o tom de Prentiss assustou-o.
“Sim, estou ouvindo!”
“Hotch, eu te amo!”
“O quê?”
“Eu te amo há muito tempo já. Há muito que quero lhe falar sobre isso!”
“Prentiss? Prentiss? Escute com atenção!”, Hotch puxou sua camisa para cobrir boca e nariz, tentando fazer o mesmo por Prentiss.
“Hotch, que bom que está aqui!”
“Prentiss, precisamos sair daqui imediatamente! Você foi contaminada por algum gás e está alucinando!”
“Não, Hotch, finalmente estou pensando com lucidez! Tudo está tão claro para mim agora!”
“Prentiss... eu...”, Hotch sentiu uma certa moleza nas pernas, o que lhe deu um calafrio... já estava sentindo efeitos de uma contaminação. Ao olhar em volta, viu um enorme galão de gás com a tramela virada para cima. “Oh, não!”, pensou, preocupado com a falta de ventilação do local, “Este lugar está todo infestado com este gás maldito!” Mas antes que pudesse puxar Prentiss para fora, sentiu vertigem.
“Hotch... Hotch? Você está me ouvindo?”
“Sim, Prentiss, estou!”
“Oh, Hotch, que bom que está aqui! Gosto tanto de sua presença!”
“Emily?”
“Sim?”
“Eu também te amo!”
“Oh, Aaron! Meu amor!”
“Eu te amo tanto, Emily! Eu te amo tanto que seria capaz de chorar!”
“Oh, Aaron! Não chore! Não, não faça isso comigo! Eu vou começar a chorar também!”
“Não, não chore, minha querida, meu amor! Não chore, eu estou aqui! Nunca vou te abandonar!”
“Nem eu! Eu nunca vou te abandonar! Sinta as minhas mãos como tremem! Veja como meu coração bate!”
“Emily?”
“Meu coração sempre bateu por você!”
“O que foi isso?”
“Não sei... parece um tiro... mas não tem importância... nada tem importância... agora que estamos juntos!”
“Não, não tem! Nada mesmo! É tão bom poder falar isso com você, saber que agora estamos juntos...”
“... e nunca vamos nos separar!”
“Nunca!”
“Nunca! Oh!...”
“Oh!...”
Morgan correu para a maca quando reconheceu Hotch.
“Hotch? Hotch? Você está bem?”
“Morgan! Morgan! Que bom que está aqui! Preciso te falar uma coisa!”
“Não se preocupe, Hotch! Está tudo sob controle! Conseguimos pegar o traficante na fuga de carro! Era um químico, Hotch! Já está preso!”
“Morgan, Morgan...” – Hotch, com lágrimas nos olhos, segura o ombro do amigo – “Eu amo a Emily, Morgan!”
“Sim, eu sei!”
“Morgan, onde ela está? Não deixem que eles nos separem, Morgan!”
“Pode ir agora, doutor! Não se preocupe, Hotch! Você vai ser desintoxicado, Hotch! Não inalou o suficiente para ser mortal, Hotch!”
“Morgan... Morgan... Eu a amo! Eu amo a Emily...”
Morgan comprou um refrigerante geladíssimo na lanchonete do hospital.
Fazia sol e um tempo bonito no dia seguinte.
“Sabe que a composição do gás produzido por aquele traficante é fascinante?”, indagou Reid.
“Não diga!”, respondeu Morgan, desinteressado.
“Sim! Ele estava trabalhando uma variação do soro da verdade em forma gasosa, com componentes alucinógenos e princípios do gás lacrimogêneo! Mas não se sabe se será possível reproduzir a composição, o traficante está se negando a colaborar!”
“Sei...”
O médico chamou.
“Vocês podem entrar agora!”
Hotch estava sentado na cama, com soro conectado ao braço.
“Ei, veja quem acordou!”
“Não fale muito alto! Estou com muita dor de cabeça! Muita dor de cabeça!”
Os companheiros riram.
“É ressaca!”, brincou Morgan.
“E Prentiss?”
“Está dormindo ainda! Mas vai ficar bem...”
“Eu não me lembro de muita coisa... o que aconteceu?”
“Nada de muito importante que você precise saber agora, Hotch...”, precipitou-se Morgan. “Tente apenas descansar!”
“É, descanse!”, acrescentou Reid. “Ainda temos uma viagem de volta. Poderemos voltar ainda hoje, você e a Prentiss terão alta durante o dia!”
“Ainda bem que terminou tudo certo!”, ainda comentou Hotch.
“É... ainda bem”, Morgan bebeu mais um gole de seu refrigerante geladíssimo.

Orkut 26/08/2009

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