terça-feira, outubro 17, 2006

MONANGAMBA

Naquela roca grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;

Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!

Perguntem as aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo? quem vai a tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipoia ou o cacho de dendém?

Quem capina e em paga recebe desdem
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?

Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertãoresponderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir ás palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

- "Monangambéé...'"

António Jacinto, poeta angolano.

Poema editado pela primeira vez em 1961, quando Angola ainda era uma colônia portuguesa.
A Independência ocorreu somente em 1975, após uma guerra de libertação.
Em seguida, o país entrou em guerra civil, que terminou apenas em 2002.
Muito sangue neste café...

Alguém aceita um expresso?

2 comentários:

Eu canto no chuveiro disse...

Infelizmente, aquilo lá do blog eu vi sim...

Eu canto no chuveiro disse...

Rô, e eu nem sabia que vc tinha um blog só pra receitas doces!

Você viu meus biscoitinhos???