quinta-feira, dezembro 14, 2006

E vou gritar para todo mundo ouvir


Nossa, quando eu vi esta foto, lágrimas vieram aos meus olhos. Tá certo que não estou passando pela melhor semana do mundo e estou um pouco emotiva (demais).
Mas coincidentemente antes de ontem tive uma recordação muito bonita desta época.
Foi assim: eu estava no gramado do clube dos estudantes da Usp (estava com a carteirinha da piscina desatualizada e por isso fui tomar sol perto da pista de corrida), ao lado de algumas outras pessoas, com um biquíni que eu gostava muito, de repente apareceu um amigo meu, o Paulão, me convidando para jogar futebol. O melhor desta lembrança é que eu senti com muita nitidez como eu estava me sentindo naquele dia: eu estava muito feliz. Feliz mesmo. Estava um lindo dia de sol, eu tinha ido sozinha, mas nada triste, encontrei-me com uns amigos, e por acaso este também foi um dia muito bom no que diz respeito à minha performance esportiva: não perdi nenhum gol e ainda fiz umas defesas sensacionais. Um monte de gente ficou batendo palmas para mim.
Me fez lembrar de como eu era antes de tudo o que aconteceu depois. Tudo o que me aconteceu e me deixou muito triste. Tudo o que aconteceu e tirou de mim muito de minha vitalidade. Tudo o que me deixou só, desamparada, com dor, com lágrimas, com o peito tão carregado que por um tempo eu nem sabia direito quem eu era. Um período de muita luta. De doença, mas de muita resistência, de muitas tentativas, de muita busca. De muita frustração também. Mas nunca de desistência. Eu nunca desisti.
Não passei por apuros de risco de vida. Não tive nada extremo como câncer.
Mas a escuridão foi grande. Uma escuridão que desandou minha carreira. Que me desafiou a querer voltar a ser uma pessoa normal. Que me desafiou o orgulho: como eu, uma pessoa tão cheia de vida, poderia estar tão submetida a algo que me limitava tanto e me machucava tanto.
Mas uma surpresa para mim: a vida não tem um filtro seletivo lógico para levar sofrimento para as pessoas. Não tem ninguém imune. Não tem ninguém com cartão de isenção. Qualquer coisa pode acontecer a qualquer um.
Não somos melhores que ninguém nesta vida.
Ninguém é.
Mas eu tenho uma surpresa para vocês. Uma surpresa para a vida também. Eu superei o que havia de ser superado.
Eu me curei fisicamente.
E estou descobrindo que há um caminho para a cura emocional também. Porque parece que as cicatrizes invisíveis ardem mais que as que ficam marcadas no corpo. Atrapalham mais. Nebulam mais. E a gente não consegue seguir em frente até que tudo esteja bem.
Foi muito importante para mim esta lembrança tão viva da época em que nada tinha acontecido ainda. Me fez perceber como eu era antes, e como se acumularam as conseqüências de tudo o que eu passei.
Não sei se é algo que eu tenha que resgatar, ou que tenha que reconstruir, ou que tenha que criar do novo.
Mas agora tenho certeza de como quero me sentir.
Eu quero tirar de dentro de mim a pessoa que eu sou, a pessoa sorridente e calma e segura que sou.
A pessoa que é tão capaz de amar que compreende até quem me magoa, que age com violência, com ou sem intenção. A pessoa que sou que é tão forte que é capaz de superar tudo, tudo, tudo.
Estão vendo o sorriso da foto?
É este que vocês vão ver estampado em mim. Um sorriso bonito, cheio do que tem que ter um sorriso.
Ai, o que seria de mim sem meus amigos e sem as pessoas que me apóiam o tempo inteiro?

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