terça-feira, dezembro 19, 2006

Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel


Há um lado meio triste do Natal: as "falsas" comemorações. Pessoas que passaram o ano inteiro correndo atrás do rabo da outra se reúnem para "confraternizar".
Há de se concordar que é necessário buscar uma realização profissional. Só que ela se enrosca às vezes na conta de ser ou de se transformar em alguém sem sentido nem sensibilidade para com as dores do outro. Ser cínico, ser traiçoeiro, ser duas caras, ser demagogo, levar vantagens em cima do trabalho dos outros, ser estressado e sem paciência, exigir de si e dos outros uma dita "excelência" de qualidade que muitas vezes é um disfarce para se assumir encargos de um departamento sobrecarregado, com poucos funcionários e nenhum subsídio. Tudo isso faz parte do ser corporativo. Palestras de motivação impulsionam as pessoas a superar limites de si mesmas, o que muitas vezes acontece de verdade: e extrapolar limites não é bom para ninguém a não ser para o lucro. E de que adianta ser um excelente profissional sem ser uma excelente pessoa? Dar conta de resolver grandes desafios na empresa e não conseguir dar conta dos problemas dentro de casa?
Sem contar algumas reuniões de famílias muito hipócritas. Pessoas que não querem que outras pessoas do mesmo sangue (ou não) percam a originalidade, a vez, a voz, a vontade e opiniões próprias que "têm" que se vestir de acordo com a ocasião, essas pessoas se reúnem e sentem que estão cumprindo um protocolo a favor da felicidade ou pelo menos "da coisa certa a fazer".
Basta rodarmos um pouco a cadeira no sentido horário (ou não) para reconhecermos todos estes aspectos de que falei.
Mas cá para nós, nesta vida louca, nesta época em que o tempo não pára e não dá chances, neste contexto em que só trabalhamos o dia todo, sem conseguir olhar para os lados, o Natal não é uma oportunidade de parar e falar com os amigos, ver aqueles quem a gente gosta, mandar uma mensagem, dizer que se ama??
Quantas vezes no dia fazemos isso?
Não, tem coisas que só fazemos porque este período de festas nos chama a fazer.
Deveríamos sempre convidar as pessoas que amamos para nossas casas, desencanar das nossas obrigações e ouvir o que os outros têm a dizer, respirar aliviado e comemorar cada uma de nossas pequenas vitórias a cada imenso desafio que nos aparece sem parar.
Sim, é um erro o natal. É um erro que só paremos para olhar para os outros porque uma convenção nos diz. Mas é um erro que cometemos todos os dias. Não adianta culpar o de fora se na verdade vivemos e seguimos ideais loucos e transtornados pela sobrevivência financeira.
Mas melhor com ele do que sem ele.
Se não fosse pelo natal, nunca faríamos o que devemos fazer no natal.
Viveríamos aplicados a bater os pregos eternos da linha de trem que não nos leva a lugar nenhum.

Feliz Natal, pessoal!!

2 comentários:

Cicero disse...

acho que é por isso que eu amo vocês.

Eu canto no chuveiro disse...

Rô, é de uma sabedoria imensa essas coisas que você diz sobre palestras motivacionais e caras que trabalham tanto que chegam a ser ocos por dentro.

Chega a ser meio piegas dizer isso mas, o mundo seria melhor se as pessoas fossem mais honestas consigo mesmas... Isso me fez pensar naquele "um" lá que me fez chorar, ofendendo meu profissionalismo e a mim. Fiquei pensando como é que um cara desses, só porque tem uma posição legalzinha numa empresa, pode se achar tão onipotente... sendo que por dentro é todo vazio.

E eu sou muito feliz pq minha vida não é tudo trabalho. É importante, claro, mas o que seria de mim se a gente não tivesse esses momentos tão gostosos com o namorado, os amigos.... nossas reuniõzinhas de amigo super-secreto...

Ah, eu sou feliz sabe... e mais ainda por ter uma amiga que sabe aproveitar as coisas simples comigo!