sexta-feira, maio 26, 2006

Mas louco é quem me diz que não é feliz... eu sou feliz...

Auto-retrato animal

Sou um bichinho manso, selvagem, migratório e hiberno no frio.
Constituo família por monogamia, após uma longa e conturbada juventude.
Meu habitat natural pode ser qualquer tipo de chão, mas preciso ir constantemente à praia para recarregar as forças.
Se sou esquilo a-do-ro castanhas em geral e prefiro estocar alimentos para mim e minha grande família (meus amigos são todos parentes próximos). Nunca canso de brincar, mesmo adulta. E estou sempre de casacão se não está um sol de quarenta graus.
Se sou peixe, não saio da água. Pode ser água doce, água salgada, água corrente, água de piscina. Só não tolero água suja, não entro de jeito nenhum!
Se sou gato, sou preguiçosa e adoro uma almofada bem confortável. Sou liberta de qualquer instituição física ou abstrata. Faço o que quero, quando quero, se quero. Não sou muito de dar satisfações para as pessoas.
Se sou pássaro, prefiro ser o bem-te-vi, que vive tanto no campo como na cidade. Ter o peito amarelo me orgulha, por ser a minha cor favorita... E dia feliz ou não, sempre sei o que dizer, o que cantar, eu consigo fazer melhorar o meu humor e o humor das pessoas.
Mas também sem dúvida nenhuma, sou ao mesmo tempo galinha e galo de galinheiro. Quero meus filhotinhos todos junto comigo, para que eles possam crescer com segurança e amor. Quero o galinheiro todo para mim, e se eu mando, não quero competição. Ouço todas as galinhas, mas a responsabilidade fica na minha mão, ou melhor, no meu bico. Sob minha direção, todos estão seguros, pois eu tomo todas as providências.
Se sou urso, reajo com irritabilidade ao que não me agrada e sou capaz de desferir grandes patadas aos que me atacam. Mas ao mesmo tempo, não sou caçadora de alta velocidade, não sou muito de criar encrenca e fazer tudo de presa. O mundo é grande, e prefiro me lambuzar de mel do que travar grandes batalhas para a sobrevivência. E tenho uma caverna quentinha para passar o inverno, sem precisar sair.
Se sou réptil, sou cobra venenosa mesmo, que gosta de tacar a língua com opiniões ácidas a respeito das injustiças do mundo. Sou uma cobra que mete a boca no trombone. Mas como o urso, não sou caçadora épica. Prefiro a dança hipnotizante dos argumentos e das palavras.
Se sou rato, não sou hamster bonitinho, sou rato de biblioteca, que meticuloso devora os livros e faz deles a sua casa, o seu templo, a sua vida. Mas sou um rato alérgico, então, ao contrário dos outros ratos, preciso construir a minha casa ao sol, para nada ficar mofado e não ter cheiro de livro velho. Sou rato de metrô também, que vai para tudo quanto é lugar da cidade tentando conhecer o que não conheço ainda.
Se sou um bicho escuso, sou calango, daqueles sobreviventes. Posso esturricar no sol, posso ser caçado e atacado sem chance de defesa, posso ser pisado ou posso desabar de um precipício, sempre sobrevivo. Sobrevivo onde a escassez é regra, onde a dificuldade vence, onde a privação é inevitável.
Se sou um bicho bem fofinho, sou mico, que com suas brincadeiras e abraços conquista as pessoas, que se encantam pelo seu olhar e seu afeto. Sou macaquinho que adora as crianças e pode passar o dia inteiro fazendo bagunça com elas ou como elas.
E por fim, sou um lobo que como todo bom poeta uiva para a lua e tem vida noturna. Solitário ou em bando, nunca abandono meu quê misterioso, enigmático. Adoro o contorno de meus olhos egípcios de lobo.

Definitivamente, não sou pingüim, não sou animal feroz, nem pássaro de grandes alturas.
Também não sou cachorro, apesar de adorar os cachorros. Os cachorros são metódicos e caseiros, fixam-se a lugares e a pessoas. Qualquer coisa os faz feliz, come qualquer coisa. Admiro-os, e como lobo posso conviver bem, mas não sou um deles.
Odeio bichos que gritam por qualquer coisa, que fazem muito barulho, que brigam por qualquer coisa, que invadem espaços dos outros, que são conquistadores acima de tudo. Odeio bichos competidores. Meu território é o mundo, acho que ninguém tem nada verdadeiro de si do que a própria consciência.

Resumindo, sou uma FUINHA com muito orgulho. Sou o que sou, e ninguém tem nada a ver com isso. Quem quiser ser pavão, urubu, caranguejo, panda, lince, baleia, que seja. A natureza é uma diversidade, cada um que faça o que lhe for melhor para ser feliz.

Foto do esquilo: Madalena Grenier

2 comentários:

Anônimo disse...

E o gardunho feliz presenteia-te com um pijaminha... ;)

Anônimo disse...

Very best site. Keep working. Will return in the near future.
»